Ao viajar por cidades como Seul ou Daejeon, um aspecto que chama atenção é a presença marcante dos hagwons, os cursinhos particulares que dominam a rotina das crianças e adolescentes na Coreia do Sul. Esses centros de estudo não são apenas aulas extras; representam uma verdadeira batalha pela competitividade acadêmica em um país onde a disputa pelo acesso às melhores universidades é feroz e o investimento em educação privada é altíssimo.
De acordo com dados do Ministério da Educação da Coreia, estima-se que aproximadamente 84% das crianças em idade escolar frequentem algum tipo de hagwon. Essa cultura de alta preparação causa uma pressão enorme sobre os jovens e suas famílias, contribuindo para um modelo educacional extremamente competitivo e, muitas vezes, exaustivo.
Em 2020, mais de 73 mil hagwons estavam espalhados pelo país, principalmente na capital, Seul. Essa presença gigantesca revela um desafio profundo: a educação se tornou um luxo privatizado, especialmente em uma nação com uma taxa de natalidade extremamente baixa, de apenas 0,72 filhos por mulher. Isso coloca a Coreia do Sul na liderança de países com menor propensão a ter filhos, além de ser uma das economicamente mais caras para criar uma criança.
Uma Contradição Demográfica e Econômica
Apesar de ser uma das nações mais caras para se criar um filho, a Coreia do Sul investe pesado em educação privada. Segundo estudos do YuWa Institute, famílias gastam cerca de 869 dólares por mês em aulas particulares para adolescentes, quase o mesmo que destinaram às despesas com alimentação e moradia. E essa despesa não diminui entre as famílias mais pobres: elas também destinam uma parcela significativa de seus recursos aos hagwons.
Dados do Statistics Korea indicam que os gastos totais com educação privada chegaram a aproximadamente 20 bilhões de dólares em 2023, mesmo com a redução no número de estudantes causada pela baixa na natalidade. A preocupação dos pais de que, sem esses cursos extra, seus filhos não estariam suficientemente preparados para os exames de acesso às universidades reforça essa tendência de gastos elevados.
O Papel do Hagwon na Vida dos Jovens
O termo hagwon refere-se às escolas intensivas que atuam como complemento ao ensino regular e preparação para exames decisivos, como o suneung ou CSAT. Desde crianças pré-escolares, até adolescentes, passam horas nesses centros, aprendendo inglês, matemática, música ou artes, muitas vezes até tarde da noite. Segundo a revista Frontline, há mais de 24.000 desses estabelecimentos somente em Seul, número que supera em três vezes o total de lojas de conveniência na cidade.
Essa cultura de alta competitividade gera debates na sociedade sul-coreana. Muitos alertam para o excesso de concorrência, o impacto emocional e financeiro nas famílias e o risco de burnout infantil. Como diz Yerim Kim, estudante: “Todo mundo que frequenta os hagwons me faz sentir que estou perdendo algo se não fizer o mesmo”.
Impactos Sociais e Demográficos
Outra preocupação central é o impacto na qualidade de vida e na taxa de natalidade. Os altos custos de educação e a forte pressão por desempenho desestimulam muitas famílias a terem mais filhos, agravando o declínio populacional que a Coreia do Sul já considera uma “emergência nacional”. Para tentar reverter essa tendência, o governo tem investido milhões de dólares em benefícios sociais e na ampliação de programas de auxílio às famílias, incluindo a expansão de atividades pós-escola até às 8 da noite.
A disputa entre manter a qualidade de vida, conter os custos e estimular a natalidade permanece como um grande desafio. A questão é: até que ponto o sistema de educação intensiva ajudará ou prejudicará o futuro do país?
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