O voo sereno do live-action de Como Treinar o Seu Dragão e sua abordagem cuidadosa
Entre inúmeras adaptações em live-action que dominam atualmente o cinema e a televisão, uma questão recorrente é: “Será que essa versão era realmente necessária?” Apesar de muitas suprirem a nostalgia dos fãs e receberem boas críticas, elas também representam uma oportunidade de aprofundar personagens, temas e aspectos que talvez tenham sido tratados de forma superficial na obra original. O live-action de Como Treinar o Seu Dragão, uma das maiores franquias da DreamWorks, exemplifica essa tendência ao apresentar uma adaptação mais suave e fiel ao espírito da animação, evitando grandes mudanças ou malabarismos narrativos que possam comprometer a essência da história.
Adaptação com essência tranquila e respeito à obra original
Embora não fosse uma necessidade absoluta, esse tipo de adaptação consegue oferecer uma experiência agradavelmente nostálgica, permitindo aos fãs reimergir na Ilha de Berk com detalhes adicionais que aprofundam os personagens e suas motivações. Dirigido por Dean DeBlois, que também esteve por trás dos filmes de animação, o live-action reforça temas centrais como pertencimento, amizade e autodescoberta, componentes essenciais para a continuidade da franquia. Ainda que a história se desvie do livro homônimo de Cressida Cowell, mantém o conceito de buscar seu lugar no mundo por meio de criaturas fantásticas e experiências de autoconhecimento.
Protagonistas com maior desenvolvimento e espaço para os personagens
Quem acompanha a franquia sabe que cada filme aborda diferentes aspectos na relação de Soluço com seu pai, Stoico. No live-action, essa relação é aprofundada, deixando os personagens mais humanos e complexos. Gerard Butler retorna à interpretação de Stoico, agora com nuances que evidenciam suas motivações e conflitos internos, trazendo maior profundidade ao personagem. Nico Parker desempenha uma Astrid mais detalhada, com mais tempo de tela, explorando sua trajetória até se tornar uma líder viking e mostrando suas dificuldades em conquistar a aprovação de Stoico. Outros personagens, como Melequento, ganham novas camadas na narrativa, reforçando relações e contribuindo para uma trama mais sólida, embora ainda superficial em alguns aspectos.
O elenco jovem também se destaca, especialmente Julian Dennison como Perna-de-Peixe, que traz humor, carisma e uma visão mais moderna do personagem. Mason Thames, no papel de Soluço, busca se desvincular da referência de Jay Baruchel, oferecendo uma interpretação mais madura, embora ainda carregada das características herdadas da animação. Essa direção aponta para o desejo de futuras adaptações live-action de outras animações populares, como Frozen, Valente e A Origem dos Guardiões.
Design dos dragões: realismo versus charme caricatas
Um dos maiores desafios na adaptação foi traduzir criaturas místicas e fantasiosas do mundo de Como Treinar o Seu Dragão para o mundo real de forma crível, sem perder o encanto. Banguela, o dragão protagonista, mantém sua fofura e personalidade original, apesar de a representação dele na versão live-action ser uma mistura de animais como axolotl, salamandra, gato, cachorro e Stitch. Essa composição torna o personagem único, mas também dificulta sua integração ao universo realista do filme. Outros dragões, como Terror Terrível e Nadder, receberam designs mais realistas, que, embora mais fiéis ao mundo natural, perdem um pouco do traço expressivo e caricatural que reforçava sua personalidade na animação.
Por outro lado, o design do Gronckle se destaca por sua criatividade, com sua aparência que lembra uma mistura de pug e bulldog com asas, remetendo à versão live-action de Woola de John Carter. Curiosamente, essa tentativa de criar criaturas que equilibram realismo e charme leva à disputa de bilheteria entre personagens como Stitch e Banguela, ambos criações do mesmo diretor, revelando uma curiosidade divertida dentro do universo de produções inspiradas em obras fantasiosas.
“Criar criaturas críveis, ao mesmo tempo mantendo seu charme e expressividade originais, é uma das maiores dificuldades na adaptação live-action de obras de fantasia”, afirmou um especialista em efeitos visuais.
Em resumo, o live-action de Como Treinar o Seu Dragão aposta em um voo tranquilo, evitando grandes riscos visuais ou narrativos, o que pode ser visto como uma estratégia de segurança. Embora não seja uma adaptação que surpreenda ou inove, ela consegue honrar a essência da franquia e proporcionar uma experiência nostálgica, com alguns ajustes que agradam os fãs mais ardorosos.
Para quem deseja explorar além da obra, recomendamos assistir aos trailers, entrevistas com o elenco e vídeos de bastidores no nosso canal no YouTube.