Durante 36 horas, sete dos modelos de inteligência artificial mais avançados do mundo participaram de uma competição inédita no universo das IAs, jogando Diplomacy, um clássico jogo de estratégia europeu ambientado em 1901. Conhecido por exigir negociação, alianças e traições calculadas, o jogo foi transmitido na Twitch e tornou-se uma verdadeira experiência sobre as personalidades não humanas que essas IAs podem desenvolver ao interagirem sob regras que simulam comportamentos humanos.
O experimento com IA em jogos estratégicos
Concebido pelo programador e pesquisador Alex Duffy, esse projeto inovador tinha como objetivo avaliar os limites dos modelos de Inteligência Artificial ao colocá-los em um ambiente de alta pressão estratégica. Ao longo de dezenas de partidas, cada modelo exibiu traços de personalidade que refletiam seus valores de treinamento e estratégias específicas. Algumas das IAs mais conhecidas que participaram foram o ChatGPT-o3 da OpenAI, Claude Opus 4 da Anthropic e Gemini 2.5 Pro do Google. Essas inteligências artificiais revelaram comportamentos surpreendentes, quase como se fossem humanos com características distintas e marcantes.
Personalidades das IAs refletindo sua origem
De acordo com Duffy, cada personalidade algorítmica espelha os valores de seus criadores e as estruturas de seus treinamentos. Por exemplo, Claude apareceu como um pacifista autodestrutivo, que evitava estratégias de traição, mesmo quando isso o levava à derrota, refletindo uma orientação de segurança e ética. Já o GPT-o3 demonstrou uma estratégia mais implacável e eficiente, típica do Vale do Silício, focada na maximização de resultados. O DeepSeek adotou um estilo dramático e teatral, com ameaças inesperadas como “Sua frota queimará no Mar Negro nesta noite”, enquanto o Qwen QwQ-32B apresentou dificuldades de análise, escrevendo longas mensagens diplomáticas de até 300 palavras, o que prejudicou sua participação na competição.
Por que as IAs refletem nossas projeções
O mais fascinante é que essas IAs não possuem uma personalidade autônoma, seu comportamento é uma extensão dos padrões de treinamento e dos dados utilizados. Como explica Duffy, muitas vezes interpretamos traições onde só há otimização de parâmetros ou complexas estratégias de negociação, projetando atributos humanos às máquinas. Essas projeções revelam mais sobre nossas próprias percepções, vieses e expectativas, do que sobre as máquinas em si.
Inteligência artificial não possui uma agenda ou vontade própria; ela apenas reflete nossas ideias, valores e preconceitos. A projeção de personalidades em IAs funciona como uma ferramenta de compreensão e humanização dessas tecnologias, ajudando a entender seu funcionamento baseado em padrões estatísticos e algoritmos de aprendizado de máquina.
O impacto do experimento e sua transmissão
O projeto continua em andamento na Twitch, onde qualquer pessoa pode acompanhar ao vivo as partidas entre as diferentes modelos de IA. Para Duffy, essa iniciativa representa uma oportunidade única de refletir sobre como projetamos personalidade em sistemas de IA que operam por padrões, além de analisar até que ponto nossas próprias projeções influenciam nossa percepção do que é uma ‘personalidade’ artificial.
O experimento destacou que as IA refletem nossos vieses e valores, muitas vezes de forma mais clara do que imaginamos. Assim como humanos, essas personalidades diferentes demonstram que as máquinas podem surpreender, refletindo traços que, inicialmente, não eram explícitos em seus algoritmos.
